Pelo menos 16 crianças no Ceará são monitoradas com doença pós-Covid

Doença surge após a recuperação de crianças infectadas pelo novo coronavírus e gera febre, dores no corpo, além de impactos cardiológicos; Tratamento pode ser feito com medicamentos já conhecidos por especialistas

Foto: NATINHO RODRIGUES

Entre as características observadas por especialistas com relação ao novo coronavírus, uma ganha destaque entre crianças curadas da Covid-19: a Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (SMIP), já registrada no Ceará.

Pelo menos 16 pequenos que tiveram contato com o SARS-Cov-2 são acompanhados pela Cardiologia do Hospital Luís de França devido à síndrome que provoca febre, dores no corpo e pode ter impactos cardíacos. O Ministério da Saúde, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), publicou nota técnica no fim de maio como alerta para a possível relação da SMIP com o novo coronavírus.

Há cerca de três meses, são observados pacientes com quadro da doença com febre insistente, dores abdominais, manchas na pele, casos de irritação dos olhos não purulenta, entre outros sinais, como relata o médico pediatra e diretor do Hospital Luís de França, Caio Malachias.

“Depois de aproximadamente três ou quatro semanas, a criança desenvolve essa patologia que pode ser grave, com evolução com doença cardíaca, inclusive, e requer um tratamento específico”, destaca. A SMIP possui características similares à Doença de Kawasaki e pode ser vencida com imunoglobulina e procedimentos médicos para evitar sequelas. O diagnóstico é feito com avaliação clínica e exames de sangue.

Perfil

Com as primeiras informações de casos na Europa acreditava-se que as crianças maiores, entre 10 e 12 anos, seriam mais acometidas pelo problema, mas há casos de pacientes no Ceará com poucos anos de vida. O pequeno cearense José Neto, de 9 anos, apresentou os sintomas da SMIP, como fortes dores abdominais, e foi atendido no Hospital Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. O menino foi infectado anteriormente pelo novo coronavírus e já havia recebido alta, mas teve de ser internado entre os dias 8 e 15 de julho devido a intensificação de sintomas com diarréia e o diagnóstico da Síndrome.

Felipe Macêdo, médico pediatra responsável pela criança, conta que depois de internado, José Neto começou a apresentar outros sintomas. “Observando esse quadro clínico associado a um histórico de Covid-19 e a dor abdominal com diarreia, a gente já estava sabendo que estava tendo alguns casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica e logo pensamos que podia ser isso, e então começamos a investigar mais”, detalha.

Com o agravamento do caso, em que o garoto chegou a ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a equipe médica optou pela transferência do menino para Hospital Luís França, em Fortaleza. “Esse tratamento foi iniciado adequadamente no Hospital Padre Cícero, em Juazeiro, mas com a possibilidade da complicação da doença eles optaram por remover essa criança para Fortaleza. O José Lima Neto deu entrada no hospital com um quadro moderado grave”, comenta Caio Malachias.

A evolução foi positiva e sem outras complicações até o momento da alta médica. “Ele queria comer tudo, inclusive tem uma história do pão de queijo, apesar de algumas restrições por causa da hipertensão que ele apresentou, eu dei um pão de queijo e ele agradeceu com aquela carinha que fez todo mundo chorar”, lembra o médico.

Outra criança cearense, a pequena Antonella Ferreira, de um ano, vivenciou os sintomas da Síndrome Multissistêmica e também teve uma boa recuperação. No início de julho, a bebê deu entrada no Hospital São Raimundo com febre alta insistente e falta de apetite. “Ela começou a ter picos de febre durante cinco dias. Ela acordou, no dia que eu levei para o hospital, com 39º de febre. Eu dei remédio e ela dormiu, mas acordou com 39,4ºC e quando eu olhei de novo ela já estava com 40ºC”, lembra Brena Ferreira, mãe de Antonella.

Foram 11 dias internada, com a persistência da febre, aparecimento de manchas na pele e quadro de diarreia, em que a bebê recebeu tratamento com a imunoglobulina. “Furaram muito ela porque não conseguiam achar a veia. Já que ela estava desidratada, ela também teve de ir ao Centro Cirúrgico para colocar um acesso central (procedimento para aplicação de medicamentos)”, destaca. O teste anteriormente feito para o novo coronavírus teve resultado negativo, mas a menina deve passar por uma nova avaliação e exame.

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