Os seis presos em uma operação policial na Bahia nesta terça-feira (6) são suspeitos de envolvimento com garimpo ilegal na região das cidades de Santaluz, Nordestina e Jacobina. Foram presos um investigador da Polícia Civil, um soldado da Polícia Militar, três cabos da PM e um traficante.
Segundo as investigações da polícia, um grupo cometia crimes ambientais na região, praticando extração ilegal de ouro, e se utilizava dos policiais para facilitar a operação. A polícia investiga se um posto de gasolina localizado na zona rural de Santaluz era usado para lavagem do dinheiro conseguido com a comercialização ilícita do ouro.
“São investigações distintas. Os alvos acabam se tocando em algum momento, então o que tenho de informação é que um dos policiais presos era sócio de um responsável por uma das áreas de garimpo. Há indícios que ele tinha sociedade com o responsável pelo garimpo. Esses policiais também praticavam outros ilícitos não relacionados à atividade de garimpagem”, explica o delegado da PF Marcelo Siqueira.
O grupo praticava a lavra clandestinamente, sem autorização, ou com autorizações inadequadas. “Utilização também ilegal de explosivos, material tóxico. Lavagem de dinheiro… O nome da operação é Garça Dourada porque Garça é o nome do posto de combustível do responsável pelo garimpo, há indícios de que utilizava o posto para lavar dinheiro. Como o ouro é um bem muito valioso, tinha transporte de ouro pra lá e pra cá, acredito que utilização de integrantes das forças de segurança seria para isso”, acrescenta o delegado.
A atividade do garimpo é forte na região, legal e ilegalmente, diz o delegado, e investigações ligadas ao caso começaram em 2020. “De 2020 para cá essas áreas eram alvo de lavra clandestina. É uma área endêmica de exploração de ouro, essa região, então é possível que vinha sendo explorada há mais tempo. Tem muitas empresas legais, inclusive, na região, há muito ouro realmente, há muita exploração ilegal também”, diz.
Ele explica que para explorar o garimpo é preciso ter uma autorização específica de lavra, cumprindo determinações ambientais. O comércio também é regulado. “Às vezes você tem autorização só de pesquisa, mas não de lavra. Às vezes empresas clandestinas se utilizam de autorização de pesquisa, que não pode extrair comercialmente, mas fazem assim mesmo. Às vezes nem têm autorização para nada, como é o caso da investigação de hoje, e comercializar o ouro também precisa de autorização, não pode qualquer um, é uma atividade controlada pelo estado”, detalha.
O grupo investigado usava produtos químicos como o cianeto, que é tóxico para pessoas e para o ambiente, além de explosivos de uso controlado pelo Exército sem autorização. “Tudo isso deixa o ambiente degradado também”.
O subsecretário da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Marcell de Oliveira, diz que as equipes ainda estão nas ruas e os números finais da operação podem mudar. “Ação conjunta das forças, junto com o Ministério Público, através do Gaeco, é o que permitiu esse resultado até agora. Ainda estão em curso as diligências em campo então os números ainda podem ser agregados”, diz.
Segundo o subsecretário, os policiais eram usados para “dar segurança” à execução do crime. “A atuação dos integrantes das forças não tem essa classificação como milícia, mas as investigações indicam que eram usados, sim, para dar segurança no processo da extração ilegal de ouro, que é o crime apurado pela PF, e há suspeita de extorsões e até homicídios. As investigações são para trazer à luz elementos que possam corroborar ou rechaçar a ocorrência desses delitos”, diz. As vítimas do grupo seriam “pessoas que estivessem concorrendo com a extração ou de alguma forma atrapalhassem a extração ilegal”, afirma.
O promotor Aroldo Pereira diz que o Ministério Público está acompanhando a investigação e, depois da conclusão do inquérito, vai decidir sobre quem será indiciado e por quais crimes. “A investigação não foi instaurada pelo Gaeco, foi instaurada pela força-tarefa da Corregedoria da SSP e inquérito da PF. Após troca de informações entre essas duas forças, notaram que homicídios investigados pela força-tarefa, envolvimento de policiais em extorsão, suposto grupo de extermínio, verificou-se que tangenciava com a extração ilegal de minério na região”, fala o promotor.
“Notou-se que podia sim fazer parte de um mesmo grupo, uns fazendo a extração, outros a segurança, ou permitindo que as atividades ilegais acontecessem de forma tranquila e fazendo tudo para que isso acontecesse, inclusive a prática de homicídios, que a gente vem investigando. O Gaeco foi informado que a investigação estava em andamento e ofereceu toda nossa força. Após o inquérito ser concluído, pelo menos a parte estadual, isso virá para denúncia do MP. Inquérito será analisado após ser encerrado e virá para o MP, que vai decidir se vai arquivar e denunciar, e quem vai denunciar, e por quais crimes”, completa Pereira.
Ao todo, 140 policiais participaram da operação. Os mandados da PF foram direcionados para áreas de garimpo e laboratórios, locais que foram encontrados em pleno funcionamento. Além disso, a operação também está bloqueando bens e contas bancárias. A polícia não soube responde quantos homicídios são atribuídos ao grupo de extermínio,nem os valores movimentados pelo grupo.
Operação – Na ação foram apreendidos um fuzil calibre 5,56, três espingardas calibre 12, seis pistolas de diferentes calibres, três revólveres calibre 38, 17 carregadores, mais de 600 munições de diferentes calibres, mais de R$ 18 mil em espécie, duas pepitas de ouro, substâncias de uso controlado utilizadas para mineração ilegal, notebook, celulares, coletes balísticos, roupas camufladas, rádio comunicador, facas e documentos.
As ações foram deflagradas, de forma articulada, por unidades da Força Correcional Especial Integrada (Force) da Corregedoria-Geral da SSP, da Polícia Federal, do Grupo de Atuação Especial de Combate a Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco) do Ministério Público da Bahia, da Core e das Corregedorias das Polícias Militar e Civil.